terça-feira, 3 de julho de 2018

A RELAÇÃO DA ENFERMAGEM COM A PSICOLOGIA

Por Michelle Barreto da Cunha*


A enfermagem desde sempre foi dita como um pilar primordial no ambiente hospitalar, com base nisso podemos dizer que o médico é que diagnostica a doença, com base nos seus sintomas, e cabe a enfermagem a visão holística em cima do paciente. Analisando o paciente como um todo, sente-se a necessidade da intervenção multiprofissional, que auxiliará na sua melhora, e um dos profissionais dessa equipe multiprofissional é o Psicólogo.

Essa intervenção é solicitada pelo enfermeiro pensando sempre no bem estar do paciente, seja ele criança, adolescente, adulto ou idoso. A Psicologia ajudará esse paciente a passar pela experiencia do adoecimento. Ou seja, devemos sempre lembrar que o psicólogo não estará ali para "curar" a doença de alguém, e sim para ajuda-la psicologicamente a entender e lidar com situação.  

Para ser solicitado esse tipo de intervenção precisamos entender que existem dois tipos de pacientes, o paciente passivo que vê a doença como um fator único que pode ser tratada com medicamentos e procedimentos que logo melhoram seu quadro clinico e o paciente ativo que é aquele que além da sua doença possui problemas sociais, econômicos, pessoas e psicológicos que influenciam e que contribui para o surgimento de novas doenças.  A enfermagem que tem a "arte de cuidar" terá que caminhar junto com a "ciência do comportamento", que é a psicologia propriamente dita. 

AMBOS pacientes necessitam de intervenção, a doença abala qualquer um de tal maneira que afeta o emocional, e quando esse não se demonstra abatido, cabe a enfermagem analisar o contexto familiar, como a família desse paciente está reagindo e solicitar o auxilio do psicólogo para lidar com a situação. 

O ambiente hospitalar é rico em conflitos DIÁRIOS, e cada vez mais o psicólogo é solicitado pra executar seus serviços não somente com os paciente, mas também com alguns acompanhantes, equipe de enfermagem, médica, administrativa...


* Michelle é acadêmica do 8º período de enfermagem da UNESC em Vilhena - Rondônia

quinta-feira, 21 de junho de 2018

MINHA (NÃO) QUERIDA ANSIEDADE!

Daniel Antonio de Toledo Gomes
Psicólogo - CRP 20/7509
WhatsApp - 69 9 9343 2431


A ansiedade é uma emoção normal e está presente no nosso dia a dia, durante os mais diversos momentos, nos ajudando a termos melhores resultados.
Quando temos uma prova importante, um encontro, uma entrevista de emprego, ela sempre se faz presente e isso nos auxilia a mantermos o foco, uma vez que por causa da ansiedade nesses momentos, acabamos prestando mais atenção do que faremos.
Porém devemos estar atentos aos excessos. Ansiedade demais pode caracterizar um distúrbio e é aí que devemos nos atentar.
O Transtorno de Ansiedade Generalizada - TAG, também conhecido como Desordem de Ansiedade Generalizada, é caracterizado pelo sentimento de preocupação excessiva e apreensão persistente por um período de 6 meses ou mais.
Esse sentimento normalmente vem acompanhado de alguns sintomas, que são classificados em psicológicos e físicos:

Psicológicos:

- Sensação de que algo ruim vai acontecer
- Problemas de concentração
- Medo constante
- Irritabilidade
- Problemas para dormir
- Dificuldade de controlar pensamentos e esquecer o objeto de tensão
- Irritabilidade


Físicos:

- Náuseas
- Boca seca
- Sudorese
- Tensão muscular
- Dores abdominais e/ou diarreias
- Dor ou aperto no peito
- Sensação de fraqueza ou cansaço


Diferentemente da maioria dos transtornos de ansiedade, nos quais há crises agudas com sintomas físicos intensos, a pessoa com TAG sofre com uma ansiedade mais amena, porém constante — é como se ela simplesmente não conseguisse parar de se preocupar.
O diagnóstico é realizado por um médico psiquiatra e/ou especialista em saúde mental juntamente com psicólogo.
O tratamento para a ansiedade se dá principalmente através de psicoterapia, o que auxilia na remissão da TAG e na melhora da qualidade de vida.

Procure um psicólogo!

quinta-feira, 19 de abril de 2018

UM OLHAR SOBRE O CIÚME

O ciúme é um sentimento intrínseco à natureza humana e que é experienciado desde logo, numa fase precoce do desenvolvimento. Pode ser entendido como uma manifestação de emoções desencadeadas pela percepção da falta de exclusividade afetiva por parte da pessoa amada e pela sensação de se estar a dividir, ou mesmo a disputar a atenção, intimidade, dedicação, cumplicidade e afeto com outros, quer estes sejam os irmãos, os primos ou os amigos.
Este sentimento de exclusão está presente, prematuramente, no desenvolvimento com a entrada em cena do terceiro elemento que vai gerar sentimentos ambivalentes na criança: por um lado, o desejo de aceder a uma relação ampliada com o mundo, mas por outro, o temor de perder a sensação de amor incondicional e a segurança afetiva que a relação simbiótica com a mãe lhe transmite.
A resolução eficiente da triangulação implica que a figura materna e paterna estabeleçam uma aliança coesa no modo como lidam com a frustração da criança, garantindo-lhe simultâneamente o amor e a segurança afetiva necessárias.
No entanto, a má resolução da triangulação, poderá comprometer a socialização da criança e os seus futuros relacionamentos amorosos, dando lugar mais tarde ao ciúme patológico. Nestes casos, as relações amorosas adultas, reativam o conflito infantil não resolvido e são vividas com uma sensação de medo e ameaça constante pelo surgimento de um rival (terceiro elemento) capaz de roubar a figura amada. Há uma expetativa permanente e infundada de ameaça na relação, ela própria idealizada e com aspectos infantis relacionados com a ilusão de amor e dedicação exclusivos e incondicionais.
Nos casos de ciúme patológico, verifica-se uma permanente desconfiança e um estado de tensão, angústia e insegurança pelo temor de se ser traído, conduzindo a uma constante monotorização das ações do parceiro, mesmo que este não tenha dado razões para tal. As reacções são desproporcionais e podem mesmo ser agressivas do ponto de vista físico e psicológico, gerando sofrimento para ambas as partes.
Estas pessoas normalmente revelam uma elevada centração nelas próprias e na satisfação das suas necessidades (egocentrismo), sendo muito possessivas, controladoras e levando em pouca consideração a individualidade do outro. Pode igualmente estar presente uma auto-estima deficiente que se traduz no medo em se ser trocado por outra pessoa percecionada como mais interessante e com mais valor.
A reação face à ameaça da perda e abandono poderá traduzir-se num conjunto de emoções que vão desde o pânico à raiva descontrolada, na medida em que a ausência do outro se traduz numa perceção da perda da própria identidade pessoal. O ciúme aqui descrito não mede a intensidade do amor mas acima de tudo o grau de dependência e a imaturidade emocional.
A intervenção psicoterapêutica nestes casos revela-se fundamental, já que o grau de sofrimento é elevado, podendo haver prejuízo nas esferas profissional, familiar e social.
Sendo uma emoção intrínseca à natureza humana, o ciúme, relacionado com o desejo de exclusividade afetiva, não pode ser simplesmente eliminado mas importa saber geri-lo, controlá-lo, aprender a lidar com ele e minimizar os seus malefícios.
A comunicação entre o casal é fundamental e é legítimo que aquele que sente ciúmes possa informar o seu parceiro que esse sentimento o está incomodar mas sem limitar a sua ação, na medida em que essa vivência emocional não lhe dá o direito de agir agressiva e autoritariamente sobre o outro.
Quando é experienciado de forma positiva, o ciúme associa-se a uma conduta de zelo e de motivação para investir no próprio, no outro e na relação.

Fonte: Psicologia.com.pt

quarta-feira, 18 de abril de 2018

AUTO-SABOTAGEM... OU O MEDO DO DESCONHECIDO?

A auto-sabotagem pode ser entendida como um processo sustentado em crenças internas limitadoras que levam apessoa a adotar comportamentos repetitivos que lhe são prejudiciais. Este artigo dá a conhecer de que forma esta voz negativa interna que pode ter várias traduções - tais como “eu não consigo fazer nada bem” “eu não mereço ser feliz”, “acabo por perder todas as pessoas que amo” - pode condicionar a ação do sujeito e o seu sucesso em diferentes aspetos da sua vida, e de que forma é possivel pôr fim a esta auto-sabotagem e assumir a direção por uma vida mais harmoniosa.
Nem sempre o caminho que tomamos nos conduz ao lugar desejado. E, por mais tentativas levadas a cabo, repete-se o resultado de insucesso. 
Provavelmente os acontecimentos de vida, as circunstâncias, a interferência de terceiros, ou mesmo decisões pouco ponderadas, poderão ter contribuído para a instalação da situação atual. Mas também as nossas condutas, inconscientes, ou seja, os nossos padrões comportamentais repetitivos, poderão igualmente estar a condicionar o nosso sucesso. A isto chamamos auto-sabotagem, enquanto um processo sustentado em crenças internas limitadoras construídas ao longo da vida e enraizadas na estrutura mental, que levam a pessoa a adotar comportamentos repetitivos que lhe são prejudiciais. Geralmente, este é um processo inconsciente, sendo frequente a projeção da responsabilidade ou da culpa no exterior.
A existência destas crenças negativas e limitantes em relação ao próprio estão associadas a uma auto-imagem e a uma auto-estima negativas. Esta voz interna negativa pode ter várias traduções, nomeadamente: “eu não consigo fazer nada bem” “eu não mereço ser feliz”, “acabo por perder todas as pessoas que amo”, entre muitas outras. Independentemente da crença limitante, ela pode acabar por condicionar a ação, dada a necessidade do sujeito em confirmar e reafirmar a sua crença a partir do resultado daquele acontecimento. E se é verdade que o resultado do auto-boicote vem reforçar os sentimentos de tristeza e desesperança, por outro lado permite a permanência numa zona de conforto que é familiar e previsível, apesar de limitante e desagradável. Poderão ser exemplos de auto-sabotagem, aquela pessoa que já reprovou várias vezes no exame de condução, ou a outra que já tentou por várias vezes fazer dieta mas a meio do processo, desiste e retoma os hábitos alimentares antigos e pouco saudáveis. Estas e outras situações, podem representar desafios que colocam em causa a identidade do próprio (a perceção que tem de si) e as sua crenças, pelo que inúmeras resistências são levantadas. Conduzir para alguém com um funcionamento muito dependente, pode representar o medo de tomar as rédeas da sua vida e decidir o caminho que quer seguir. A reprovação repetida no exame de condução pode representar uma forma de fuga e de evitamento a uma situação nova e desconhecida, de maior autonomia, que desperta medo e desconforto.
Auscultar e observar os padrões comportamentais que se repetem e as emoções associadas a situações desconfortáveis, são procedimentos essenciais para começar a proceder a pequenas mudanças.
Tomar consciência destes processos inconscientes é um dos primeiros caminhos para romper com a auto sabotagem e assumir a direção por uma vida mais harmoniosa. No sentido de promover o auto-conhecimento e a orientação da  vida de acordo com o que é desejável, importa saber responder às seguintes perguntas.
“O que é que eu quero para mim?”
“Como é que me quero sentir no futuro?”
“Quais são os meus objetivos?" (Os sentimentais, profissionais, de relacionamento, financeiros, e outros…)
Desfazer crenças negativas que levam à auto-sabotagem, ter um auto-conhecimento profundo, tolerar a frustração e ser persistente perante as adversidades, são aspetos que contribuem para o desenvolvimento do potencial e das habilidades de cada um.
As nossas experiências de vida não nos definem e muito menos nos rotulam. Muitas vezes vivemos colados a esses rótulos que acreditamos definirem a nossa identidade, consubstanciados nessas “falsas verdades”, quando a verdade é que a nossa plasticidade, capacidade de readaptação e potencial criativo são enormes e possibilitam estar em constante aprendizagem e transformação.
Ousemos então aceitar esse desafio constante chamado vida!

Fonte: Psicologia.com.pt

terça-feira, 17 de abril de 2018

COMO DESLIGAR DURANTE AS FÉRIAS?

O Verão é para muitos sinônimo das tão desejadas férias, período de lazer e descanso, sonhado ao longo do ano e que se constituí como uma necessidade orgânica para parar da correria desenfreada do dia-a-dia.
Pessoas que passam anos sem tirar férias, correm o risco de atingir um  desgaste físico e psicológico de tal ordem elevado, que acabam por desenvolver quadros de burnout, caracterizados por sintomas de depressão, dores de cabeça, alterações do sono, dificuldades de atenção, concentração e raciocínio. 
Parar para o devido descanso é não só um direito merecido mas também uma condição essencial para a nossa saúde mental que não devemos descurar. No entanto, muitos são aqueles que mesmo de férias, não conseguem tirar o devido proveito porque simplesmente não conseguem desligar da rotina e do stress. Para isso, importa desde logo planear as férias, reservando um período mínimo de duas a três semanas de pausa, que permita dar ao organismo o tempo necessário para se adaptar a uma mudança no ritmo e desacelerar, usufruindo do descanso devido.
Resolver antecipadamente problemas pendentes de ordem prática, como contas por pagar, e não alimentar preocupações com o trabalho são fatores essenciais para se conseguir relaxar. Continuar a atender telefonemas e a responder a e-mails de trabalho representa uma sobrecarga que pode traduzir-se em alterações de humor, irritabilidade, dores de cabeça constantes ou mal-estar, sendo preferível o aviso de ausência no email. Outro aspeto importante,  é procurar sair da rotina do dia-a-dia e introduzir o factor novidade, tal como ir para outro lugar ou fazer uma atividade diferente. Uma mudança de contexto facilita também uma mudança das respostas habituais, eliminado o stress e promovendo o bem estar.
Quando paramos e desligamos o piloto automático das obrigações diárias, mais facilmente podemos entrar em contacto com o nosso eu interior e assim fazer balanços, redefinir prioridades, sem perder o nosso rumo e sentido de vida. É neste espaço e tempo que se abre para nós, que podemos avaliar com mais clareza e perspetiva o ponto em que nos situamos na vida e entrar em contacto com novas ideias e formas de concretizá-las que nos podem trazer realização pessoal e satisfação. O cérebro mais descansado é mais criativo, produtivo e promotor de um maior bem estar. Dedicar momentos das férias a atividades prazerosas com as pessoas de quem gostamos é também fundamental, assim como não descurar a nossa saúde, nomeadamente ter horas de sono suficientes, fazer uma alimentação saudável e manter atividade física para aliviar tensões.

Fonte: Psicologia.com.pt

segunda-feira, 16 de abril de 2018

ANSIEDADE ESCOLAR E O PAPEL DOS PAIS NA SUA REGULAÇÃO

A ansiedade e o stress não são uma realidade exclusiva dos adultos. Também os jovens se debatem com desafios e exigências no seu quotidiano, quer sejam matérias complexas, professores, cargas horárias ou até a necessidade de tirarem boas notas. E se a existência de uma ansiedade moderada é positiva e funciona como uma fonte de energia que ajuda o jovem a mobilizar-se para os seus objetivos, já a ansiedade excessiva torna-se disfuncional e bloqueadora, levando o jovem a sentir-se incapaz de atingi-los. Neste último caso, é frequente encontrarmos quadros de preocupação crónica, queixas de dores sem causa aparente, oscilações bruscas de humor, irritabilidade, alterações bruscas do sono ou mesmo recusa em ir para a escola.
O alívio da pressão é fundamental e os pais podem ter aqui um papel fundamental, na medida que desde logo se constituem como modelos de referência e, como tal, podem ensinar os seus filhos a combater o stress sendo um exemplo disso.
A moderação das expetativas dos pais é outro dos aspetos a ter em conta, na medida em que posturas muitos perfecionistas e voltadas para os resultados, podem promover o desenvolvimento de quadros de ansiedade aliados a sentimentos de insuficiência e incapacidade por parte dos filhos. As crianças são muito sensíveis às expetativas dos pais e têm uma grande necessidade de cumpri-las para se sentirem amadas e fazerem os pais felizes. Quando a criança chega a casa com um resultado negativo e tal não é bem recebido, havendo uma sobrevalorização do resultado em detrimento do processo associado ao trabalho e empenho, tal conduz à interiorização de um sentimento de desvalia e incompetência por parte da criança, com prejuízo ao nível da sua auto-estima. Os resultados negativos deveriam ser encarados como oportunidades de aprendizagem no percurso de vida da criança e não como oportunidades de culpabilização e crítica.
No sentido de atenuar a pressão e a ansiedade dos jovens, é muito importante o estabelecimento de uma rotina por parte dos pais na medida em que tal é organizador e transmite segurança e tranquilidade.  Na rotina diária tem de ser contemplado tempo livre de brincadeira, atividade e lazer, não esquecendo que no mínimo o jovem deve dormir cerca de 8 horas. Em fase de exames pode ser útil o recurso a um calendário ou agenda, com as suas rotinas, não esquecendo que nas maratonas de estudo importa o estabelecimento de pausas para o corpo e a mente recuperarem. A prática de exercício físico é importante na medida em que a ansiedade é canalizada para o esforço físico, bem como o recurso de exercícios de relaxamento.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

COMO CONFORTAR UMA PESSOA EM LUTO?

Por Joana Simão Valério


Na nossa cultura, a morte é ainda um tema muitas vezes evitado e considerado tabu, pelo que é comum as pessoas referirem-se ao luto como uma situação que precisa de ser resolvida e deixada para trás de forma relativamente breve.
Neste contexto, as manifestações de desamparo e tristeza, como o choro sistemático e prolongado no tempo por parte da pessoa enlutada, são muitas vezes encaradas como sinais de perturbação emocional e não como reações normais que devem ser acolhidas e compreendidas.
Importa evitar comentários tais como “não chore”, “não sofra”, “ele não ia querer vê-lo assim”, “vai conseguir ultrapassar”, “vai ver que vai esquecer”.
Apesar de bem-intencionados, estes comentários, acabam por induzir na pessoa enlutada uma vivência de incompreensão no que respeita ao seu sofrimento emocional, acrescendo ainda a pressão para sair daquela situação o mais rapidamente possível, o que poderá conduzir à repressão dos verdadeiros sentimentos e ao adiamento da resolução do luto. Para ajudar a pessoa enlutada, importa proporcionar disponibilidade em tempo e espaço, para que ela possa falar e chorar.
Nestas situações, a simples presença da família e amigos é por si só reconfortante, bem como a capacidade de ouvir. Por vezes, não há nada mais reconfortante como a partilha do silêncio, através do qual a pessoa enlutada sente o acolhimento e a empatia genuína do outro.
O reconhecimento e a validação dos sentimentos que estão a ser vividos são também formas de poder prestar apoio empaticamente, podendo ser transmitida da seguinte forma “Isto é tão devastador que não tenho palavras, mas estou a teu lado para o que precisares.”
Durante o luto, é natural que as pessoas se sintam frequentemente sozinhas e isoladas, pelo que importa revelar interesse e disponibilidade para estar presente, independentemente do que for preciso, mesmo que seja para resolver questões burocráticas ou aspetos práticos do dia-a-dia. Demonstrar esta sensibilidade e disponibilidade é bastante tranquilizador e securizante para a pessoa enlutada.
O luto é vivido de uma forma tanto mais saudável, quanto maior for a possibilidade para o enlutado falar da perda e dos sentimentos a ela associados e quanto maior for a disponibilidade da rede de suporte para o acolhimento desses sentimentos.
Uma angústia não negada e bem acolhida tende a gerar a possibilidade da pessoa se refazer mais facilmente da situação de perda e sair mais fortalecida deste processo para continuar a sua história.

Fonte: Psicologia.pt

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO SEGUNDO MARTÍN-BARÓ

Ignácio Martín-Baró
Para a psicóloga Cecília Santiago, falar dos mártires de El Salvador é necessário e atual, principalmente considerando as situações de opressão que ainda persistem na América Central
Ignacio Martín-Baró, um dos seis jesuítas assassinados brutalmente pelo exército salvadorenho no dia 16 de novembro de 1989, em El Salvador, foi o precursor da psicologia da libertação. Defensor de uma psicologia que se dedicasse ao atendimento dos problemas das maiorias populares, ele argumentava que era preciso “fazer uma psicologia política que leve em conta o poder social na configuração do psiquismo humano e que, portanto, contribua para construir um novo poder histórico como requisito de uma nova identidade psicossocial das maiorias até hoje dominada”, disse Cecília Santiago, psicóloga de Chiapas, à IHU On-Line, na entrevista que segue, concedida, por e-mail.
Baró ficou conhecido na América Latina após divulgar o contexto social e político de El Salvador, mostrando a realidade sofredora do povo salvadorenho. Recordando o martírio, Cecília Santiago diz que, como psicóloga chiapaneca e centro-americana, acredita “que estas pessoas, que há vinte anos deram sua vida, nos falaram com tal clareza que a vigência de suas palavras nos alenta e nos orienta nesta época de injustiça e opressão”.
Na opinião de Cecília, o sofrimento ainda está presente na América Central e, por isso, a realidade centro-americana de pobreza extrema, de violência e morte “nos chama a participar no fortalecimento de uma trama social que busca a vida, a paz e a dignidade”. Ela informa que em Chiapas, o governo e empresários “assassinaram lideres comunitários e jovens integrantes de organizações camponesas e indígenas”. Aqueles que mantêm Honduras sob estado de sítio, acrescenta, “são os mesmos que mataram Martín-Baró, os que assessoram o exército salvadorenho e mataram centenas de milhares de pessoas, de jovens, de crianças”.
Em homenagem aos seis jesuítas e às duas mulheres que foram brutalmente assassinados em El Salvador, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU inaugura, na quinta-feira, 10-12-2009, a sala Ignacio Ellacuría e Companheiros. Na ocasião, será exibido o debate Memory and it Strength: The martyrs of El Salvador (A memória e sua força: Os mártires de El Salvador), que ocorreu no Boston College, nos EUA, no dia 30 de novembro. Mediados pelo jesuíta e reitor emérito do Boston College, J. Donald Monan, Noam Chomsky e o jesuíta e teólogo Jon Sobrino discutem a importância dessa memória. 
IHU On-Line - Como você descreve a participação de Ignacio Martín-Baró nas lutas sociais em El Salvador na década de 80?
Cecília Santiago - Na universidade, ele promoveu a desideologização de professores, alunos e da sociedade em geral. Como professor, promoveu a conscientização de seus alunos e a participação ativa em analisar e transformar a realidade de seu país.
Como pesquisador, pôde situar o contexto em que se vivia no país, definindo os conteúdos de uma guerra na qual os perdedores eram a população civil. Localizou as consequências psicossociais na população, dando pistas para a atividade pastoral e de acompanhamento. 
Como acadêmico, promoveu a criação de instâncias universitárias que mantiveram a vinculação direta com a cidadania, como o instituto de opinião pública, a partir do qual fazia pesquisas de opinião que permitiam dar a voz à população em geral e, simultaneamente, mediante estas perguntas, as pessoas podiam questionar a realidade em que viviam. Dando, assim, importância à participação da população civil em meio a um conflito.
Este papel ativo a partir da universidade lhe possibilitou abrir as fronteiras do país, ministrando conferências em diversos países, mostrando a realidade sofredora do povo salvadorenho, além de promover laços de solidariedade. 
Como sacerdote, acompanhou sua Igreja, o povo mais pobre com uma cotidianidade em meio aos confrontos armados, massacres, perseguições e cárceres. Brindava espaços de reflexão à luz do Evangelho, análises da realidade para situar o papel dos atores políticos locais e internacionais, e promovia a motivação para viver, para a solidariedade e a compaixão entre irmãos.
IHU On-Line - Em que consiste a psicologia da libertação de Ignacio Martín-Baró? Quais são as fontes de inspiração e sua contribuição fundamental?
Cecília Santiago - Martín-Baró assinalou que a psicologia devia estar orientada para a libertação dos povos oprimidos. Falou de como libertar a psicologia de sua origem como ciência ao lado dos opressores e com base na cultura ocidental, como uma ciência que não contribui à humanização das pessoas, e sim a sua alienação. Citou os objetivos da psicologia social latino-americana: re-estabelecimento de toda a sua bagagem teórica e fortalecimento das opções populares. Delineia três tarefas libertadoras: o estudo sistemático das formas de consciência popular, o resgate e potenciação das virtudes populares e a análise das organizações populares como instrumento de libertação histórica. 
Assim ele propõe que a psicologia devia descentrar sua atenção de si mesma, de seu status científico e social, para dedicar-se ao atendimento dos problemas das maiorias populares. Ter nova práxis psicológica para a transformação da sociedade latino-americana. Propôs, assim, ter um novo horizonte e uma nova epistemologia.
Foi um acadêmico em sentido estrito, que buscou tanto o trabalho teórico como uma práxis sólida. Falou com dedicação e firme compromisso da atividade do psicólogo e do papel transcendente que desempenha entre contextos que laceram e humilham os pobres, para aprofundar-se no conceito psicossocial da libertação, consolidando uma psicologia popular e uma psicologia política.
IHU On-Line - Qual é, segundo Ignacio Martín-Baró, a função da psicologia da libertação ante a realidade da injustiça e da violência na América Latina e em El Salvador?
Cecília Santiago - 1. A recuperação da memória histórica, para haurir lições da própria experiência, encontrar as raízes da própria identidade para interpretar o presente e vislumbrar alternativas realmente úteis para a libertação;
2. Desideologizar a experiência cotidiana, para sair do fictício senso comum, enganoso e alienador, que é transferido pelos meios de comunicação de massa. Promover espaços para que o povo veja o que conseguiu, o que está fazendo e dê validez a seu próprio modo de entender o que se passa, fazendo-o para seu próprio bem;
3. Trabalhar para potenciar as virtudes de nossos povos. Tantos valores que estamos construindo para sobreviver à adversidade.
IHU On-Line - O que caracteriza a psicologia da libertação enquanto proposta crítica da psicologia social?
Cecília Santiago - Martín-Baró assinalou que a psicologia tinha que estar orientada para a libertação dos povos oprimidos e não para o hedonismo científico.
IHU On-Line - Como se integra a ética e a política no fazer da psicologia social de Martín-Baró?
Cecília Santiago - Se você se refere à ética, temos que perguntar-nos de que lado estão os psicólogos: do lado do opressor? Ou do oprimido? Aí está a opção ética que cada um deve fazer. Também é preciso repetir a pergunta constantemente ao longo de toda a vida. E se perguntar quais são as consequências históricas concretas que essa atividade está produzindo. 
Martín-Baró falou de fazer uma psicologia política que tome em conta o poder social na configuração do psiquismo humano e que, portanto, contribua para construir um novo poder histórico como requisito de uma nova identidade psicossocial das maiorias até hoje dominada.
IHU On-Line - 20 anos depois do martírio, quais são os reflexos da psicologia da libertação na América Central?
Cecília Santiago - A partir de Chiapas, posso dizer que a presença de Martín-Baró como sacerdote e amigo ainda está viva no meio do povo daquela que fora sua paróquia Jayaque. E suas análises de saúde mental em contexto de guerra recordam nas pessoas desmobilizadas de alguns departamentos, como Cabañas.
Suas contribuições foram e serão parte do povo porque dali vieram e sempre estarão presentes de uma ou outra forma, mais ou menos visível.
IHU On-Line - Qual a importância de recordar e celebrar a memória dos mártires? Como essas vítimas nos chamam à libertação?
Cecília Santiago - Como psicóloga chiapaneca, que também me sinto centro-americana, creio que estas pessoas, que há vinte anos deram sua vida, nos falaram com tal clareza que a vigência de suas palavras nos alenta e nos orienta nesta época de injustiça e opressão. 
Eles nos trouxeram valentia e determinação. A convicção de que nossa voz e nosso agir têm relevância. Por isso, falar deles e de nossa realidade atual é tão necessário como participar de movimentos amplos de transformação social. Os atores que mantêm Honduras sob estado de sítio após o golpe de Estado são os mesmos que mataram Martín-Baró, os que assessoraram o exército salvadorenho e mataram centenas de milhares de pessoas, de jovens, de crianças. Nossa realidade centro-americana de pobreza extrema, de violência e morte nos chama a participar no fortalecimento de uma trama social que busca a vida, a paz e a dignidade. Em Chiapas, nos últimos meses, o governo, empresários e sicários assassinaram líderes comunitários e jovens integrantes de organizações camponesas e indígenas, como  Trinidad Martínez, Mariano Abarca, entre outros, são nossos mártires de hoje. E eles nos chamam a não ter medo, a sentir sua presença que nos impele a buscar, dentro das profundezas de nossa identidade ancestral, caminhos iluminados para caminhar em meio às lutas de libertação.

Fonte: IHUOnline