Por Breno Figueiredo
Ao longo do Rio Trombetas, antropólogos pesquisaram, em 1944, a tribo Kaxúyana. Quando perguntaram a eles se consideravam a Terra um planeta redondo, eles responderam que não, a Terra era plana. Mas, e o sol, perguntaram os antropólogos? Ele nasce em um lugar, percorre o céu, se põe bem longe e no dia seguinte nasce no mesmo lugar outra vez! Isso não mostra que a Terra é redonda?
Não, responderam os Kaxúyana. O sol nasce, percorre o céu, se põe bem longe e, durante a noite, volta apagado ao lugar de origem.
Qual é a vantagem de saber que o sol não volta apagado?
Sabendo que o mundo é redondo, vários pesquisadores do passado conseguiram desenvolver a cartografia da Terra, estudar as estações, intensidade da luz em diferentes pontos do planeta e até mesmo ampliar
nossa compreensão sobre o Sistema Solar e o Universo.
Com o desenvolvimento do método científico e do mundo acadêmico, qualquer afirmação cientificamente comprovada ganha poder, sendo aceita por boa parte da sociedade como algo de maior valor se comparada a investigações ou métodos não-científicos.
No ensino médio, os professores de Química ensinam a ligação covalente de modo simplificado. Quem estuda Química no Ensino Superior aprende a “verdadeira” ligação covalente, conteúdo que não faz falta aos alunos do Ensino Médio.
Se cada informação que aprendemos precisasse do aval de verdade científica, os telejornais não poderiam divulgar a previsão do tempo (que sempre carrega alguma margem de erro) e nenhuma prova de amor ou amizade seria suficiente, abalando nossas relações sociais.
A partir desses exemplos, percebemos que muito do que não pode ser medido ou analisado interfere em pequenos e grandes momentos do cotidiano. Isso nos fala a favor de terapias muito criticadas, como Psicanálise, Medicina Chinesa e outras mais.
Provavelmente a neurociência jamais vai encontrar qualquer rede de sinapses ou região anatômica que possa chamar de “Ego, Id ou Superego”, dizendo que Freud estava certo.
Assim como o Sol dos Kaxúyana e a ligação covalente do Ensino Médio, as afirmações da psicanálise têm suas limitações, mas permitiram transformações imensas na vida de milhares de analistas e analisandos muito antes da descoberta de neurotransmissores e sua fisiologia.
Mesmo após essas descobertas, o efeito de ter um profissional capacitado com técnica e ética para nos ouvir continua operando transformações que pílulas e comprimidos não podem fazer sozinhos.
A existência de Deus não pode ser cientificamente provada e bilhões de pessoas não admitem a vida sem algo transcendental ou divino.
Portanto, apesar dos avanços que devemos ao método cartesiano e suas derivações, precisamos ter a noção de que verdade científica não significa verdade absoluta.




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