Por Luana Joplin
Na segunda metade do século XX, o indivíduo
passa a ter como pulsão de vida o consumo, maquiado pelo desejo do melhoramento
das condições de vida, a necessidade do conforto, ou seja, ‘o bem estar’.
Entretanto, aproximadamente durante a década de
O
indivíduo da segunda metade do século XX se desprende de muitas amarras
culturais, agora o indivíduo é alguém dentro de uma sociedade de controle, que
pode se sentir “livre”, mais liberto, e que tem como pulsão de vida, manter
vivas as instituições (com exceção do casamento), obter conforto, lazer, ou
seja, seu bem-estar. A canalização do prazer agora está no consumo e no corpo.
O indivíduo deixa de querer apenas seu bem-estar material e social, ele agora
passa também a buscar um bem-estar psíquico, recorrendo ao que Lipovetisky
chamou de ‘farmácias da felicidade’. Drogas lícitas e ilícitas, recursos
espirituais, terapias, novas religiões, e o capitalismo não deixarão de fazer
“dessas farmácias da felicidade” algo comprável.
Durante a sociedade disciplinar, os sistemas
tomaram frente de “coisificar” o indivíduo, a sociedade de controle de rotular,
no entanto, na segunda metade do século XX, a sociedade torna-se uma sociedade
do desejo, onde o Hiperconsumo fomenta coisificação das idéias, da religião,
dos pensamentos, e fazer deles algo que tenha uma marca, e que seja
desejado. A busca do prazer passa a ser
a carta mestre do consumo, e da sustentação social. As festas, os jogos, os lazeres, as incitações de prazer, passam a fazer
parte da vida cotidiana (Lipovetisky, p.16, 2007)
Segundo Lipovetisky, nunca se falou tanto em
felicidade quanto na sociedade de Hiperconsumo, no entanto, após a década de 60
até os dias de hoje, nunca houveram tantos distúrbios mentais. Há sempre uma
busca de prazer incessante, pela qual o homem trabalha para conseguir dinheiro,
andar conforme as leis político-sociais,
estabelecer relações sociais, e buscar o lazer para arrebatar a
turbulência do dia. Esse ciclo traz uma desorganização psicológica, fazendo com
que o indivíduo dentro de uma sociedade bipolar, também tenha uma vida bipolar;
uma vida acompanhada de altos e baixos, cheia pessimismo de dia, e otimismo à
noite.
Essa sociedade
de Hiperconsumismo traz diversas mudanças nos comportamentos sociais,
estimuladas por novas formas de mercado de venda e compra, trazendo uma nova
ótica no imaginário de consumo. Ao longo dos tempos o indivíduo é motivado
pelos discursos de pulsão de vida, os discursos imbuídos na sociedade
transformam o sujeito e molda o seu comportamento de acordo com a sua
época. Segundo Bauman (2003) novos
tempos geram novos sujeitos, que só pode ser compreendido pela ótica do seu
próprio tempo.
Essa ótica de bem estar social, ou individual,
que é colocada através do discurso do consumo, traz patologias sociais, embora
a corrida seja individual, fazendo com que o indivíduo se sinta uno, no entanto não deixa de ser
massificado por possuir um mesmo ideal, e a patologia massificada ocorre devido
o anseio por mais.
O
consumismo exacerbado faz com que o novo sempre fique velho e obsoleto amanhã.
O Consumo emocional é a pulsão de vida através da compra, o prazer no consumo,
de forma que transforme o comportamento do sujeito, tornando-o mais
individualizado, transformando seu meio cultural em pura satisfação do Eu.
Se na primeira metade do século XX a indústria
padronizava os produtos, padronizando assim o indivíduo que o consumia, agora
na segunda metade do século XX, as empresas vão investir na personalização dos
produtos e dos preços, e na individualização do consumidor.
No fim da primeira metade do século
XX, apesar de haver a padronização do consumo, da produção e do indivíduo, a
grande massa já tinha bastante acesso a uma grande demanda material mais
psicologizada e mais individualizada, com bens duráveis; moda, marca, etc.
No início do século XX, essa pulsão de consumo era acessível somente para
as elites, e graças às concorrências, e os preços baixos, passou a ser
acessível ao consumo de massa. Já na segunda metade do século XX, o consumo
torna-se critério de excelência para o progresso das empresas da indústria e da
sociedade. A pulsão de vida passa ser impulsionada pelo desejo de consumo, de
bem estar, conforto.
Entretanto, há um desejo que impulsiona o indivíduo a estar inscrito
nesses códigos de consumo, que o faz se sentir sujeito, e que o faz se sentir
“bem”. O fato de estar em um emprego, ter eletrodomésticos e tecnologia dentro
de casa, e durante suas férias poderem viajar, faz com que o indivíduo se sinta
estimulado a estar inscritos nesses códigos sociais, e fazer parte desse desejo
de massa. Ou seja, há algo mais na sociedade que é estimula através de um
impulso libidinal, tal como descreve Marcuse, além da rápida elevação do nível
de vida, e a obtenção do bem-estar; a ambiência de estimulação dos desejos, a
influência do outro, a imagem luxuriante das férias, a sexualização dos signos
dos corpos, a promessa de futuro pelo presente. Isso só é desejado, pois nesse
contexto de desejo pelo consumo, só se concretiza a partir do olhar do outro. A
individualização, o desejo de bem estar do indivíduo, só ocorre a partir do
outro.
Segundo Freud, o indivíduo só passa a ser alguém a partir do outro, no
entanto a individualização do consumo, só é consolidada quando um indivíduo
olha para o outro. A pulsão de vida se instaura no consumo individualizado a
partir do olhar do outro. Assim o indivíduo se empenha socialmente em estar
bem, com conforto e “aparentemente” com saúde psíquica.
Os mercados de consumo fazem promessas que passam a ser um alvo para o
indivíduo buscando sempre ter seu “conforto e bem estar” seguros. Freud fala em
seu livro “O Futuro de uma ilusão” (1927) da relação do indivíduo com o futuro,
da insegurança que ele transmite por ser uma escuridão indagável, na qual só
tomamos consciência dele quando o mesmo vira presente; Segundo Freud o
indivíduo
(...)
fica às vezes
tentado voltar o olhar para outra direção e indagar qual o destino que a espera
e quais as transformações que está fadada a experimentar. (...) E há ainda uma
outra dificuldade: a de que precisamente num juízo desse tipo as expectativas
subjetivas do indivíduo desempenham um papel difícil de avaliar, mostrando ser
dependentes de fatores puramente pessoais de sua própria experiência, do maior
ou menor otimismo de sua atitude para com a vida, tal como lhe foi ditada por
seu temperamento ou por seu sucesso ou fracasso. Finalmente, faz-se sentir o
fato curioso de que, em geral, as pessoas experimentam seu presente de forma
ingênua, por assim dizer, sem serem capazes de fazer uma estimativa sobre seu
conteúdo; têm primeiro de se colocar a certa distância dele: isto é, o presente
tem de se tornar o passado para que possa produzir pontos de observação a
partir dos quais elas julguem o futuro. (Freud, p.25 anos 1927)
No entanto, nunca foi tão fácil prometer um
futuro seguro quanto é na sociedade de Hiperconsumo, através da compra, através
da sedução e de sentir-se seduzido pelo consumo.
O consumo passa a se tornar um fetiche na sociedade.
O consumo
passa ser mais que algo social, passa a ser algo pessoal, emocional. O consumo
traz o gozo imediato, diferentemente do gozo que se obtinha na sociedade
disciplinar, o gozo por ser um indivíduo que vivia da labuta, e era virtuoso; desejamos as novidades mercantis por si mesmas, em razão de
seus benefícios subjetivos, funcionais e emocionais que proporcionam (Lipovetsky,
2007, p.44).
Com a individualização do indivíduo através do
consumo, e a não padronização dos produtos, esse gozo emocional é facilmente
obtido pelo consumidor, haja vista que, há uma relação emocional do indivíduo
com a mercadoria a ser comprada, instituindo o sentimento do Eu, e uma
transferência de identidade, que o indivíduo adquiri socialmente, e que ao ver
determinado produto, se identifica, se vê no produto, transfere seu Eu pra ele.
O Hiperconsumo traz uma mudança na significação social, e a pulsão de vida
deixa de ser uma pulsão coletiva, e passa a ser uma pulsão individual, uma
transferência do Eu com o universo consumidor; o consumo emocional indica a vitória do “ser” sobre o “parecer”.
(Lipovetisky, 2007 p.46)
Esse “ser”, do consumo individualizado, causa
estímulo da cultura de si (Foucault, 1984) e do tempo individual, o fato de
poder construir o seu próprio modo de vida, acelerar operações da vida,
aumentar as capacidades de estabelecer relações, prolongar a vida, moldar ou
corrigir imperfeições do corpo, o consumo da à sensação ao indivíduo,
impulsionada pela libido, de exercer controle sobre tudo e principalmente sobre
si.
Essa fase
Hiperconsumista que a sociedade do desejo vem enfrentando desde a década de
1970 até os dias de hoje, está em uma bulimia de desejos, um desespero pelo
“ser”, pelo “querer”, “pelo desejar”.
Durante a sociedade de controle, as patologias individuais vinham pelo
descaso de desejo pela sua repressão, a pulsão de vida era a virtude
repressiva, o desejo de ser bem visto pelo outro como o soberano de si, ter um
trabalho, manter viva as instituições e suas leis, já na sociedade de
Hiperconsumo, as patologias vem maquiadas de desejo e necessidade de satisfação
libidinal.



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ResponderExcluirEu hiperconsumo a produção do blog. Parabéns pela atualidade do tema e qualidade do texto. Sugiro complementá-lo com a leitura do Bauman em Vida para consumo. Vide resenha em:
ResponderExcluirhttp://www.alana.org.br/banco_arquivos/arquivos/docs/biblioteca/Bibliografia/Livros/VIDA%20PARA%20CONSUMO%20-%20Zygmunt%20Bauman.pdf
Obrigada pela dica, gosto bastante de Bauman e sua teoria sobre a modernidade liquida. Usei pouco Bauman para este texto, me baseei mais em Lipovetisky. Obrigada pela Sugestão do link, e fico feliz q tenha gostado do texto.
ResponderExcluirLuana JOplin