UM
PROBLEMA HISTÓRICO
Por Denilson Paixão
Antes de nos aprofundarmos sobre os dois pontos
supracitados, que são colocados, muitas vezes, como opostos, temos que fazer um
breve resumo quanto às origens do humanismo, também conhecido como “terceira
força” da psicologia.
Tal movimento político-epistemológico em psicologia teve seu
inicio na década de 60 encabeçada por psicólogos norte-americanos com a
intenção de dar respostas concretas ao modo de ver o homem que se diferia da
Psicanálise e Comportamentalismo da época. Sendo assim, não podemos dizer que a
“Terceira Força” seja um grupo coeso quanto suas propostas epistemológicas,
visão de homem, mas que são um grupo heterogêneo que não aceitando o modo de
tratamento do ser humano pelas propostas mais reconhecidas da época decidiram unirem-se
para pensar e fazer uma nova psicologia.
A “Terceira Força”, assim, não vai focar sua perspectiva
sobre o homem adoecido ou em sua doença, como faz a Psicanálise, mas no caráter
saudável e de realização pessoal e social. Este grupo, também, não se
reconhecerá nas propostas behavioristas watsonianas (não confundir com a atual
skinneriana) cujo homem era quase um autômato respondente a estímulos externos.
Outro fator importante é o contexto social e cultural da época, no qual a
contra-cultura veio influenciar no modo de pensar sobre este homem do entre e
pós-guerra. A contra-cultura foi um movimento que buscava novas formas de
existir humano, que não seria aquela “politicamente correta” da sociedade quase
vitoriana, nem mecanizada pelas suas relações fetichizadas pelo capital, mas
outros modos, mais transcendentais e místicos, por sua influência budista e
hindu, mais comunitário e afetivos.
Os humanistas ansiavam por mais do que a sociedade de sua
época oferecia, assim como a ciência de sua época proporcionava! Ansiavam por compreender a criatividade, a
espontaneidade, a saúde, a liberdade e o subjetivismo que, de algum modo, não
eram foco, como na Psicanálise, ou sequer eram considerados como objeto de
estudo legítimo da ciência, como é o caso da abordagem watsoniana. É importante
ressaltar aqui que tanto o humanismo, behaviorismo e psicanálise não são uma
verdade sobre o homem e a humanidade, mas uma forma de abordar este ser vivo e
prover melhorias de vidas deste.
Então, com estes fatores históricos e epistemológicos, a
“Terceira Força” foi se distanciando dos moldes de ciência convencionais da
época, principalmente a ciência positivista lógica encarnada no Bevariorismo
Metodológico de Watson. Por acreditar que a ciência possa se tornar um grande
veículo de dominação, os humanistas buscam, ainda hoje, fugir a uma concepção
mais técnica, metodológica ou laboratorial, valorizando termos como vivência e
experiência humana/subjetiva. Tal posicionamento não é errado, há muitas provas
históricas de que a ciência foi veículo de dominação, mas também a provas de
que muitos cientistas sofreram pelo mau uso de seus conhecimentos, que foram
criados pelo bem da humanidade. Qualquer informação sobre o uso e abuso da
ciência, o prêmio Nobel pode servir de balizador!
Mas, por que não rever esta postura preconceituosa frente
ciência nos dias de hoje? Nosso mundo social e científico é o mesmo da década
de 60? Estaríamos nós defendendo uma postura coerente, realmente crítica, ou
apenas fingimos criticidade e reproduzimos uma visão anacrônica de nossos
predecessores?
É acreditando que nossa postura humanista seja anacrônica
que se faz necessário aos humanistas revisitarem estudos sobre as ciências.
Sim, ciências, pois não podemos dizer que somos contra A ciência, não existe
mais esta proposta unificada. O que há são modelos de cientificidade X, Y ou Z
e se nos posicionarmos contra alguma delas temos que dizer os porquês de modo
reflexivo e responsável. Temos os modelos fenomenológico, pragmático e
materialista dialético como exemplo de ciências que podem ser feita. O modelo
positivista lógico, que tanto foi criticado por estes humanistas, não existe
mais, se existe é por irresponsabilidade de profissionais que se mantêm
desinformados sobre como fazer ciência de modo não-mecânico.
Cremos que é possível pensar e fazer ciências entre os
humanistas. Mas que tipo de ciência? Aqui, não acreditamos que seja
interessante responder a está questão de modo universalizante, posto que a
própria história da “Terceira Força” nos mostra que é possível se fazer várias
ações e intervenções humanas sem requerer a uma proposta mais real, mais
verdadeira, mas que possa transformar nossas vidas de modo saudável!
O que está em jogo é: assumiremos ou não este desafio de
nosso tempo em apaziguar ou romper definitivamente com propostas de ciência?
Precisamos ou não buscar novas formas de fazer e intervir com os homens junto
às ciências? Continuamos, porém, crendo que não podemos dizer o que se deve
fazer, mas que é preciso repensar e então fazer algo com este mundo de hoje, de
agora, que não é mais aquele de quem Maslow, Rogers e Perls tratavam.
É preciso, mais do que nunca, contrapor ciência e humanismo,
mas não pelas críticas passadas, que se foram, mas pelo que virá e está sendo
produzido frente ao humano. O negar-se fazer ciência sem compreender que
ciência é esta pode ser um ato de negligência mais que um ato politizado.
Retomamos a questão inicial do artigo para finalizarmos:
ciência e humanismo, um problema atual, em que nos cabe refletir e fazer?
REFERÊNCIAS
CARPINTERO, Helio et. al.
Condiciones Del Surgimento y Desarollo de
la Psicología Humanista. Revista
de Filosofía. Madrid, 3º época.
Vol. III, num. 3, 1990. PP 71-82.
CHALMERS, A.F. O que é ciência, afinal? São Paulo:
Brasiliense, 1993
ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1976.



Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAchei engraçado esse trecho:
ResponderExcluir"Outro fator importante é o contexto social e cultural da época, no qual a contra-cultura veio influenciar no modo de pensar sobre este homem do entre e pós-guerra. A contra-cultura foi um movimento que buscava novas formas de existir humano, que não seria aquela “politicamente correta” da sociedade quase vitoriana, nem mecanizada pelas suas relações fetichizadas pelo capital, mas outros modos, mais transcendentais e místicos, por sua influência budista e hindu, mais comunitário e afetivos."
Isso porque hoje em dia só o que encontramos são humanistas conservadores, balizados pela matriz do "politicamente correto", reprodutores do modelo neoliberal, preconceituosos com formas mais transcedentais, com os hippies ou com qualquer forma de contra-cultura e resistência; e totalmente desinteressados em modos de existência ou sequer atuação mais comunitários, contra o modelo hegêmonico individualista.
No mais, o texto está bacana.
No futuro, poderias escrever mais sobre como a contra-cultura influenciou os humanismos? Tenho essa curiosidade, mas meu tempo livre é estudando outras vertentes.
Abraço